(crônica publicada no site Vida Breve)
Hoje, ao teclar estas bem justificadas linhas, é comemorado o dia nacional da poesia. A leitora já deve ter notado que meus textos semanais surgem com certo delay, considerando o intervalo entre o dia em que escrevo e o da publicação. Não há o que fazer. Esse é um sistema comum aos cronistas, que estão sempre presos aos acontecimentos do dia, presos ao hoje, atemporalmente com um pé atrás.
Castro Alves nasceu em Curralinho, no interior da Bahia, em 14 de março de 1847. Mas hoje a cidade tem o nome do poeta, celebrando o ilustre nativo e livrando-a das piadas dignas de sexta série, similares a outras localidades brasileiras como Pau Grande, Não-Me-Toque, Braço do Trombudo, Entrepelado, Pintópolis, Barro Duro e Jardim das Piranhas. Se cada cidade dessas gerasse um poeta da mesma cepa do autor de “Espumas flutuantes”, humor e poesia teriam mais interseções na nossa geografia.
Pulo uma linha e da poesia vou para a prosa, pois hoje é aniversário também de Carlos Heitor Cony, que completa 89 anos e segue produzindo. Pelo que me lembro, foi o primeiro caso de um autor que se empolgou com as facilidades do processador de texto no computador e, depois de um hiato de mais de duas décadas, voltou à ficção e escreveu “Quase memória”, um dos meus romances preferidos. Há uns quinze anos, quando ele veio palestrar na faculdade onde eu estudava, explicou porque prefere Bandeira a Drummond, e a identificação apenas aumentou. Sempre curti mais o recifense também.
Ou melhor, tive outro tipo de aproximação. Creio que a literatura – e a poesia, talvez de forma ainda mais afiada — nos marca pela ocasião em que estamos vivendo quando nos aproximamos dela. Tive uma adolescência regada a Vinicius de Moraes como leitura espontânea, com um objetivo prático que gosto de relatar quando visito escolas: decorava vários poemas dele e escrevia para as garotas fingindo que estava criando na hora, escrevendo sonetos de forma tão rápida que faria inveja a qualquer médium numa sessão de psicografia. Às vezes dava certo, e fiquei muito feliz quando, certa vez, um rapaz me disse por email ter dado meu livro de poemas para a menina com quem começava a namorar. Graças ao Vina.
Ainda que já conhecesse poemas de Drummond, a leitura do mineiro veio depois, já universitária, regada a monografias e perspectivas teóricas que às vezes fecham um pouco o texto, vertendo o olhar para algo profissional. E a leitura de poesia requer uma perspectiva amadora, desarmada. Só fui ter essa experiência de fruição depois, mas já era um pouco tarde para recriar a paixão única da primeira vista.
Por isso desenvolvi uma longa e lenta admiração pela poesia de Drummond, que se tornou um amplo museu ou parque poético, universal em temáticas e técnicas. Mas nesse meio tempo, não me lembro por que motivo, li versos como “todas as manhãs o aeroporto em frente me dá lições de partir”, e Bandeira se hasteou de forma definitiva, ocupando um lugar de preferência que dura até hoje, na intimidade da identificação, no desencanto com o mundo transferido suavemente para estrofes.
Se Drummond foi um parque, Bandeira se tornou um bar. E nele vale a pena ir pelo menos uma vez por semana encontrar a rapaziada. Nesses tempos tão prosaicos, é até uma questão de saúde.
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