E-mail resposta a um escritor seminovo

 

(Crônica publicada no site Vida Breve)

Ilustração: Rafa Camargo

Caro Henrique Rodrigues,

Fico agradecido bagarai pela sua resposta às minhas mensagens na semana passada, ainda mais por tornar público o meu livro de Poesia Pepitas frugais. Bastava me mandar um e-mail mesmo, o que indica que você também devia estar sem assunto para a crônica semanal e optou por resolver duas coisas de uma vez só. Tá beleza, é um direito seu. But… apesar da sua generosa resposta e tempo dedicados, gostaria de esclarecer algumas coisas e peço um direito de resposta no mesmo site, e acredito que esse grupo seleto e sério do Vida Breve vai me dar o espaço para isso. Vou enumerar meus pontos que nem você fez, para ser bem didático.

1) Pepitas frugais não é só um livro de Poesia de um carinha iniciante. Trata-se de uma Obra escrita ao longo da minha vida inteira, e até de algumas anteriores. Mas para deixar essa grandeza ao alcance dos leitores, foi preciso escrever umas notas introdutórias e assim tornar inteligível toda a complexidade dos meus escritos. É preciso mediação para a genialidade.

2) Você insinuou que meu livro flerta com autoajuda e onanismo (ficou com vergonha de falar punheta, bronha etc.?), e que eu preciso de diagnóstico. Saiba que meu analista me orientou a escrever mesmo, quando meus remédios não forem suficientes. Hoje é normal todo mundo ser tarja preta. E pelo menos eu estou convertendo minhas angústias em força produtiva, em vez de sair por aí destruindo os outros.

3) É verdade que não preciso ler Poesia, porque ela é essência e já trago comigo uma carga adormecida de fazer poético. Ela brota de minh’alma que a cultiva há séculos, de vidas passadas e futuras. Eu escrevo além do tempo, e o que não tenho portanto é tempo de ficar lendo coisas dos outros. Não me interessa.

4) E sim, para transubstanciar a Poesia meu analista sugeriu que bebesse no motivo que me atormentava que era a minha ex-namorada. Nossas trocas de mensagens eram densas, Poesia pura. Mas sei lá o que são esses tais de decassílabos, sonetos etc. É coisa de gente velha e não me interessa.

5) Você definitivamente não entendeu a mensagem liricoescatológica dos meus Poemas escritos com urina e fezes. Eles ocupam o lugar das palavras porque são isso, a água e o barro, início e fim da nossa humanidade. Seu intelecto é um pouco limitado quanto às simbologias, visto que esses dois Poemas vão participar de uma exposição de Arte num espaço alternativo da Lapa, em formato de painéis que vou escrever e retocar de acordo com a minha Vontade. Se você não entendeu, meu livro não é só um livro de Poesia, é algo maior, uma experiência de linguagem. Você já leu Rimbaud, Mallarmé, Tzara, ou mesmo os OuLiPos? Minha escrita também é de vanguarda e por isso eu estou reinventando a Poesia Universal. Por isso a Poesia não precisa se restringir mais a essa coisa mofada chamada palavra. Pfff, esses velhos que têm nojinho de mijo e merda… Poesia é o visual, o corpo, o movimento, os excrementos, o vômito pro mundo, saca? Não sei se você leu minha biografia no final, mas além de poeta, sou músico e DJ, um Artista Múltiplo mais completo.

6) Aliás, você citou Sabino, sobre a minha intervenção e performance do vômito, então eu vou citar Rubem Braga, para falar na sua língua com um desses autores velhos: “E, como todo mundo tem mais o que fazer, os poetas se tornam incômodos. Virá-los pelo avesso não é a solução”. Eu me viro pelo avesso e mostro minh’alma pro mundo. Gostou, papudo? (essa expressão é da sua época, certo?)

7) Notei o preconceito com o Movimento Poesia Paratudo (MOPOPA) que realizamos no bar nas madrugadas de segunda para terça — e por sorte ninguém precisa trabalhar cedo no dia seguinte, mas vida de artista é desregrada assim mesmo e não é pra quem quer, mas quem pode. Saiba que já passaram por ali 1.863 poetas, todos livres para se expressar e geniais nas suas performances. E todo mundo se adora, eu acho.

8) Sobre o ensaio no final do livro, acontece que eu também sou meio Filósofo e às vezes escrevo umas teorias, mas sem essa coisa de academia chata bagarai que você curte. O que é Poesia? Poesia é tudo.

9) Apesar disso tudo, esqueça essa coisa toda. Pepitas frugais é coisa do passado, pois já esqueci a minha ex e eu olho pra frente. Segue anexa minha nova Obra Poética Transmídia, Poetizgrila Unchained, produzida a partir das gravações das festas de mesmo nome onde vou tocar como DJ, mescladas com frases que ouvi nas manifestações recentes e sons de pessoas transando — inclusive comigo. Já na introdução aviso que é preciso se libertar do olhar careta e preconceituoso e mergulhar de alma na Poesia. No fundo eu não passo de um romântico.

10) Agora vou parar de falar de mim e deixar você falar. Véi, na boa, o que acha de mim?

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