Na balada

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Escrevo de São Paulo, onde cheguei para participar da Balada Literária, e também onde devo ficar por alguns dias por compromissos de trabalho. Sampa tem uns prós e contras, como em qualquer lugar, mas por conta da escala da cidade os prós tendem a ser muito grandes, como é o caso da culinária, e os contras seguem o mesmo caminho. Vide os engarrafamentos. Diferente do Rio de Janeiro, quando geralmente o trânsito diminui aos domingos, aqui parece que os carros saem de casa para aproveitar a cidade, uma vez que estão liberados, enfim, do rodízio.

Mas fico com os prós. A Balada Literária é uma catarse cultural tocada pelo também catártico Marcelino Freire. O escritor e agitador pernambucano consegue a proeza de, em temos bicudos como estes, realizar um festival literário contando com a participação de dezenas de artistas de todo o país, alguns até mais do mainstream, como Ney Matogrosso. Há quem diga que essa articulação do Marcelino se dá porque ele, na verdade, tem pelo menos seis irmãos gêmeos. Simultaneamente, ele está dando uma palestra num lugar, uma oficina em outro, fazendo curadoria de outra coisa, visitando instituições e compondo banca de prêmio literário. Seus livros, naturalmente, são escritos nos salões de embarque.

Balada. Um termo com o qual os cariocas implicavam (eu incluso) há alguns anos. Designava a vida noturna da cidade. Achávamos isso muito esquisito no Rio, e por isso chamávamos, bestamente, de night, o que era pior ainda. Agora que saí desse mercado, por conta de idade (ui) e casamento (viva), não sei direito como chamam. Mas creio que aqui, pelo menos, ainda seja o mesmo. Parece que no Rio já estavam adotando também.

Mas o conceito da Balada Literária é altamente interessante. As programações, apesar do nome, acontecem ao longo do dia. E o público vai mesmo. Como hoje fosse um dia quente, imaginei que raros iriam investir seu pouco tempo de domingo para ouvir escritores, mas havia um grupo bom lá e foi uma lufada de esperança na literatura.

Balada, no Rio de Janeiro, pode ser levar uma bala perdida. Há algumas semanas, fui acompanhar a Flupp, na Cidade de Deus. É um evento literário lindo e que, pela sua natureza, de Festa Literária das Periferias, chega onde muitos os projetos culturais dizem chegar, mas apenas para conseguir patrocínio. Poucos dias após o evento, irrompeu essa guerra entre polícia, traficantes e milicianos que, até hoje, não acabou. E fico pensando que as ações culturais não fazem nem cócegas nos problemas sociais. Talvez façam. Ou diminuam. Ou não tenham que fazer, deixando em aberto, como possível consequência.

Porque, às vezes, tudo o que queremos é apenas curtir a balada.

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